São dois que escrevem. Ou são um? Ouçam um. Ouçam os dois. É para se ler com os ouvidos, mas nunca se esqueça: não se prenda às palavras.

12.23.2006

E o país cresce! (parte 1)

Ontem. Barra Funda. Terminal rodoviário.
Meu ônibus estava marcado para meia-noite e dez. Destino: Marília. Ou melhor, destino: cruel.

Entrei no terminal e pude constatar o esperado. Tudo estava lotado. Ok. É de se entender. Véspera de Natal (aliás, Feliz Natal!).

Fui andando, seguindo as placas (sempre usei o Tietê) e encontrei a área de embarque.

Minha Nossa Senhora!

O que é isso!

Eu estava no alto de uma escada. Daquela altura era possível ver um largo corredor numerado por suas plataformas. Era a área de embarque. Não dava para ver o chão. Nenhum pedacinho de chão. Só cabeças. E malas, muitas malas. Presentes, crianças, velhinhos e PMs assustados.

Eu ainda estava no alto da escada. E na escada, a situação era pior. A mesma lotação do tal corredor de embarque, com a desvantagem de contar com alguns vários degraus à sua frente.

Não dava pra descer a escada. Você era empurrado por quem estava atrás, caía em cima de uma senhora do degrau de baixo, essa senhora dava um gemido, batia com tudo em uma criança e assim caminhava a humanidade.

Uns 20 minutos até chegar ao chão. Cheguei! Ufa!

Ufa nada!

O pior estava por vir.

Ali no chão, em frente à escada, era onde desembocava esse rio de gente. E a correnteza era forte, muito forte. Violenta.

Era impossível se equilibrar. Você só não caía porque não tinha onde cair, não tinha chão. Só tinha gente. Muita gente.

Nas mãos a mala (com roupas e um presente de vidro dentro), uma cesta de natal da empresa (aquela clássica que todo mundo ganha) e uma outra sacola com conteúdo variado.

Avistei de longe a plataforma 11, mas a correnteza levou minha bagagem e meu corpo para o outro lado. Não dava pra escolher. Era ir pra aquele lado, ou esmagar uma criancinha. Preferi seguir a corrente e ir pro lado errado.

E até que não foi má escolha. Com a força dos corpos que se rebatiam chegeui na plataforma 4, esquivei-me de mais algumas pessoas e consegui me livrar da multidão em movimento.

Já estava ficando nervoso. Cheguei na rodoviária com uma boa antecedência e acabei levando mais de meia hora para descer uma escada e andar uns 15 metros. Me senti impotente. Eu via a plataforma, estava na minha cara, e eu não podia alcançá-la.

Mas como ia dizendo, fui levado até a plataforma 4 e descobri uma maravilha. Dava pra ir andando até a 11 pelo lado de fora, pelo caminho dos ônibus. Em um dia normal, aquilo seria proibido, mas naquela situação...

Consegui chegar na famigerada plataforma à meia-noite. Faltavam dez minutos para o meu ônibus. Com algum esforço coloquei as coisas no chão e fiquei com as pernas abertas por cima da bagagem como uma galinha que choca um ovo. Não podia dar bobeira, era muita gente.

Ali na plataforma as pessoas estavam paradas, ao contrário das do corredor, mas ainda era muita gente. Era impossível sentar. Eu continuava sem ver o chão.

Esperei dez minutos e chegou o transporte coletivo intermunicipal. Perguntei para um tiozinho: - Esse é o meia-noite e dez para Marília?

-Hahahaha... Risada sarcástica!

- Pode ir no banheiro, tomar uma cervejinha lá fora...hahaha... esse é o das 22!

Duas horas de atraso em todas as empresas!

Todas.

Os ônibus chegavam e não havia plataforma. Havia gente mas não havia ônibus. Era o caos.

Fazer o que né...Ninguém vai me ouvir nessa confusão, não adianta chorar, espernear... Vamos conversar, sempre gostei disso. Já que não posso embarcar no ônibus, vou embarcar em algumas histórias.

- FIM DO PRIMEIRO ATO -