O menino é pai do homem?
Pensando em perspectivas, fica cada vez mais difícil enxergar nitidamente dois palmos a frente. Quem dera fosse a neblina ou o só a poluição, mas o que cega são circunstâncias. Sociedade, economia, cultura e paradoxos que sintetizam esse nosso tempo em pessoas. Quais as chances de um menino que vende balas no farol da Avenida Europa tornar-se vendedor de carros de luxo na mesma avenida ? Qual a possibilidade do “falcão”, o garoto do tráfico, não continuar nessa carreira e tentar ingressar no vestibular de medicina? Será que o menino de classe média largaria seu winning eleven para vender cópias piratas do jogo em barracas ambulantes? E o menino que sofre com a seca do sertão desde que nasceu? Terá uma oportunidade na ‘terra da garoa’?
Tentando olhar em volta, é complicado escapar do determinismo clichê. Determinismo sombrio que não combina com a vontade de fazer de um pensador que transpira juventude. Dá vontade de acreditar no futuro, de pensar que o Governo se mobilizará (e que os resultados serão efetivos), que instituições voluntárias ganharão novo fôlego e se multiplicarão pelas regiões mais carentes. Dá vontade até de pensar em socialismo – mas um de verdade, não o chavista ou castrista – aquele que levaria ao comunismo, à vida em comunas em que sem o outro, o um não vive. Mas logo dá vontade – porque é preciso - de acordar e ver que tudo isso está tão longe que uma solução parece não existir. Quão cruel pode ser a vida, se já nos vemos até desprovidos de esperança? Quanto sentido faz tudo isso, se sabemos que o mundo segue em ciclos, e que as crianças crescerão e se tornarão líderes ou escória – assim mesmo, com um radicalismo que insiste em perseguir.
Melhor que esses pensamentos sejam abstrações temporárias, frutos de uma mente quase totalmente descrente em relação às transformações. Amanhã, quem sabe, faça um dia ensolarado e a perspectiva se renove. Não com mágica, com atos.